Projeto Peixes Anuais do Pampa é finalizado: Conheça alguns resultados!
Os
resultados do Projeto Peixes Anuais do Pampa, apoiado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza (www.fundacaogrupoboticario.org.br/) contribuíram para a conservação da
natureza através do fornecimento inédito de um panorama atualizado sobre a
diversidade, distribuição geográfica e ameaças antrópicas incidentes a esse
peculiar, pouco conhecido, endêmico e ameaçado grupo de peixes no Bioma Pampa.
O
desenvolvimento do projeto permitiu o encontro de espécies que se
julgava estarem extintas (Austrolebias ibicuiensis, Austrolebias varzeae), novas espécies de peixes anuais no Brasil, antes
conhecidas apenas para outros países vizinhos (Austrolebias cheradophilus e A.
quirogai), bem como a descoberta de novas espécies para a ciência. Os
resultados obtidos foram ainda utilizados no PAN Rivulídeos, no Zoneamento Eólico
do RS e na atualização das listas de espécies da fauna ameaçadas de extinção no
RS e no Brasil.
Austrolebias sp.
Austrolebias arachan
Austrolebias cheradophilus
Austrolebias quirogai
Todas as metas e objetivos propostos pelo
projeto foram plenamente alcançados. Foram encontradas 39 espécies de
rivulídeos, sendo uma pertencente ao gênero Atlantirivulus,
sete ao gênero Cynopoecilus e 31 ao
gênero Austrolebias. Ao todo foram
localizadas 223 populações, distribuídas em 164 diferentes áreas úmidas, localizadas
em 44 municípios. Os ambientes amostrados, independente do município e bacia de
drenagem, geralmente apresentaram área reduzida (<1 ha), densa vegetação
aquática e estavam localizados em áreas de campo, estando completamente
expostos à luminosidade.
Várzea do Arroio Chuí
Austrolebias paucisquama
Cynopoecilus nigrovittatus
Atlantirivulus riograndensis
A grande maioria das espécies e populações
encontradas ocorreu em municípios situados na Planície Costeira e Depressão
Central do Rio Grande do Sul. Todas as espécies de rivulídeos registradas
anteriormente na área de estudo foram contempladas pelo projeto e tiveram
também ampliação no número de populações conhecidas. Além dessas, duas outras
espécies conhecidas anteriormente apenas para o Uruguai, foram encontradas em
território brasileiro. O projeto também identificou novos táxons. Ao menos 04
espécies do gênero Austrolebias foram
reconhecidas como novas (uma delas com o artigo de descrição já submetido para
um periódico internacional). Outras duas espécies de Cynopoecilus precisam passar por uma revisão mais detalhada, porém
também indicam serem novas.
A principal causa de perda e fragmentação dos
biótopos foi a agricultura, principalmente o cultivo de arroz irrigado e soja.
A presença do gado nas áreas úmidas, apesar de ser constante, aparentemente não
representa uma ameaça tão intensa quando comparado com o cultivo de grãos, uma
vez que para a pecuária não há necessidade do manejo direto da terra e a maior
alteração é devido ao pastoreio e pisoteio das poças. O avanço da área urbana é
outro impacto considerável sobre as populações, principalmente em áreas com
maior especulação imobiliária. O aterramento e drenagem das áreas úmidas são
constantes devido à especulação e demanda imobiliária desta região.
Apesar do cenário de alteração antrópica, também
foram encontradas áreas com grande potencial para a preservação de populações
de peixes anuais. Isto é especialmente importante no Bioma Pampa, o qual apresenta a mais
baixa representatividade no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC)
e é considerado o segundo bioma mais devastado do país, atrás apenas da Mata
Atlântica.
Por fim, os dados
obtidos pelo projeto permitiram identificar áreas prioritárias para a
conservação de peixes anuais no bioma Pampa, assim como espécies de especial interesse
conservacionista. Além disso, foi possível chamar a atenção para a conservação
de áreas úmidas temporárias e sua biota associada. Essas informações poderão
subsidiar diretrizes e as tomadas de decisões sobre futuras ações de manejo,
conservação e educação ambiental, a serem desenvolvidas por órgãos públicos
relacionados ao meio ambiente, além de instituições de pesquisa e ONGs. Também deverão
ser utilizados no licenciamento ambiental, a partir do reconhecimento de áreas
de exclusão para o estabelecimento de empreendimentos e na mitigação de
impactos e compensação ambiental.
Os
resultados do Projeto Peixes Anuais do Pampa continuarão sendo divulgados
através da publicação de artigos científicos e por meio de textos e divulgação
de imagens no blog e página na rede social (https://www.facebook.com/InstitutoProPampa).
* O texto e todas as imagens são próprias e possuem direitos
autorais vinculados ao IPPampa.
Luis Esteban Krause Lanés